Centro Comercial

Eu andava calmamente por ali, a ouvir a música de fundo do centro comercial. Fiquei parada por momentos a observar uma montra de uma loja com roupas vintage e sorri ao imaginar-me a usar aquilo. Sem prestar atenção, acabei por ir contra alguém.

Observei a rapariga à minha frente e sorri-lhe, quando me apercebi que me agarrava para não cair.
- Sim. Estou ótima. - Afirmei de forma espontânea, começando a brincar com os anéis dos meus dedos. - Desculpa ter ido contra ti. Estava distraída. - Continuei e de seguida, virei a minha atenção de novo para as roupas. Eram mesmo bonitas.

Voltei a olhar para a rapariga, apercebendo-me que ela ainda me falava. Que simpática! E ainda por cima, partilhávamos os mesmo gostos.
- Oh sim, são mesmo muito bonitas. - Sorri enquanto mirava a montra. - Mas deve ser melhor não entrar. Não quero gastar o meu dinheiro todo. - Acabei por dizer, tentando mostrar-me menos triste do que aquilo que me sentia. Rapidamente, me virei para ela, estendendo uma das mãos. - O meu nome é Evangeline BelleRose. E o teu...?

- Oh, que querida. - Disse e sorri-lhe motivada pela sua simpatia. - Também te ficariam muito bem a ti. Tens um corpo espetacular. - Disse, soltando uma leve gargalhada enquanto a mirava. Ela tinha muito mais curvas que eu, não era tão trinca-espinhas e, ao menos, tinha maminhas bonitas.
Assim que ela agarrou na minha mão, eu tive um vislumbre breve de um lobo e rapidamente me apercebi com o que estava a lidar. Parando de sorrir e um pouco petrificada, só conseguia pensar no quando desiludiria os meus irmãos.
- Tu és... - Não terminei a frase e comecei a correr dali para fora.

Eu desatara a correr sem entender bem porquê. Num momento estendia a mão a uma rapariga super simpática e, no outro, apercebia-me que essa rapariga era um lobisomem. E, mesmo depois disso, o que me fizera sair dali não era o facto de sentir medo dela, mas sim do que os meus irmãos pudessem pensar. Acima de tudo, não os queria desiludir.
Era nisso que pensava, quando fui contra alguém pela segunda vez, desta vez quase caindo. Quando esse alguém me agarrou, eu reconheci logo a sua voz.
- Tyler. - Murmurei, agarrando-me a ele mais do que o necessário. Engoli em seco e fiquei a olhar para ele, tentando sorrir.

Comecei logo a acalmar com o que ele dizia. Sem precisar de muito mais, acabei logo por esboçar um sorriso menos forçado.
- Estava com pressa de te encontrar, Tyler. - Alinhei na brincadeira, tentando abstrair-me do que acabara de acontecer. Ainda olhei para trás para ver se via a rapariga com quem acabara de falar, no entanto não reconheci ninguém.

Fingi que não ouvira o que ele dissera e larguei-o imediatamente ao perceber que o agarrava com mais necessidade que o habitual. Entrelaçando as minhas mãos uma na outra, fiquei a olhar para os meus dedos que tremiam um pouquinho pelo nervosismo que sentira ainda à pouco.
- Oh, eu estou bem, estou bem. - Repeti, tentando convencer-me mais a mim que a ele. - E tu, como estás? Muitas namoradas, aposto.

Eu olhei para ele e sorri.
- Sim, garanhão. Se precisar de ti é só chamar que vens loguinho. - E ri-me baixinho, colocando um dedo sobre o seu nariz, enquanto lhe deitava a lígua de fora.
Embora nós os dois estivéssemos sempre na brincadeira, eu sabia bastante bem o tipo de amizade que existia entre nós. Eu podia contar com ele para tudo, e esperava sinceramente que ele também soubesse que podia contar comigo para o que precisasse.
- Oh, és um totó, Tyler. - Murmurei, sentindo o seu braço nos meus ombros. - Os meus irmãos nunca nos deixariam ficar juntos.

Eu sorri-lhe e não disse nada, olhando para os seus olhos azuis. Já me sentia muito mais calma que antes e parecia que voltava rapidamente ao meu estado sempre disperso e alheio.
- Não sei, não, Tyler. - Murmurei. - Afinal, que idade tens mesmo?

Eu olhei para a cara dele, semicerrando os olhos. Se tivesse de dizer o meu primeiro pensamento, provavelmente dava-lhe a minha idade. Não parecia muito mais velho que eu. No entanto, havia algo nele; na sua expressão e - por vezes - nos seus modos, que o revelavam mais velho, muito mais velho.
- Algo me diz que não tens a idade que aparentas. - Disse baixinho.

Eu encolhi os ombros e comecei a brincar com os dedos das minhas mãos.
- Quem sabe, até meu bisavô. - Provoquei com um sorriso a surgir-me nos lábios. Provavelmente não passava de uma simples suposição e, como até nem era grande bruxa, não me surpreendia que me tivesse enganado mais uma vez. - Oh, mas sim, sem dúvida. Nenhuma mulher te resiste. - E ri-me da sua cara.

- Ah, mas então admites que és velho! - Ri-me ainda mais, deitando-lhe de novo a língua de fora. Depois, com o comentário seguinte comecei a fingir ajeitar o meu cabelo, bastante embaraçada. - Ok, eu admito. Eu sonho contigo todas as noites. Especialmente, a sair sexy da banheira. Apanhaste-me. - Voltei a olhar para ele, fingindo-me ainda mais envergonhada.