Bosque

- Ambos. - disse olhando-o. Aguardei a sua reacção. Se decidisse trespassar-me com a faca não me iria matar, no entanto deixar-me-ia fraca e vulneravel. Mas parte de mim achava que ele não o ia fazer, que apesar da sua atitude ele era de confiança.

Fechei os olhos com força, pronta para sentir a lâmina fria atravessar-me sem piedade. A minha respiração cessou e as minhas mãos estavam um pouco trémulas.
Abri os olhos assim que ele falou, surpreendida. - Eu sei. - disse baixinho desequilibrando-me ligeiramente com o seu encontrão.
Deixei-me ficar mais algum tempo no bosque encostada a uma árvore e em seguida fui para casa.

Encerrado

Consegui ouvir Allison chamar por mim, mas o toque de entrada tinha-me salvo que ela viesse atrás de mim. Eu tinha gostado dela, mas neste momento, achava que era melhor ela ficar longe de mim. Algo se passava e eu não conseguia perceber o que era.
Por apenas alguns momentos parei de pensar, ou pelo menos era o que parecia ter acontecido. Embrenhei-me pelo bosque, atento a todos os sons e movido apenas por instinto. Sim, eu estava a dar em maluco. Parei, respirando fundo e encostei-me a uma árvore, deixando-me sentar no meio do musgo e da lama por várias horas.

Felizmente só tinha tido três aulas de manhã, sim, porque eu estive tudo menos atenta em todas elas. Apesar de mal o conhecer, não consegui parar de pensar nem por um segundo em Scott. A forma como tinha saído disparado, já para não falar do quão distraído estava enquanto falávamos, eram provas mais do que suficientes de que algo se passava. Estacionei o carro à beira da estrada, saindo do mesmo depois de ter pegado no meu telemóvel e enfiei-me pelos bosques a dentro. Eu sabia que ele me tinha dito que falávamos amanhã, mas eu estava demasiado preocupada para não ir à sua procura. Não que eu tivesse a certeza de que ele estava nos bosques, mas tinha sido ali que tinha acontecido o seu acidente, por isso, podia ser que tivesse alguma sorte. Vagueei por ali durante alguns minutos até que, perto do local do seu acidente, avistei o seu corpo, milagrosamente, sentado junto de uma árvore. Mordisquei a parte de dentro da minha bochecha, enquanto me movia até perto dele e, assim que lá cheguei, parei de pé ao seu lado.
- Eu espero que não me odeies depois disto.- murmurei.- mas eu fiquei mesmo preocupada, tinha de te vir procurar.

Levantei a cabeça quando ouvi passos. Olhei para trás e para os lados, mas não eram de lá que vinham, era em frente. Semicerrei os olhos, não vendo ninguém. Sabia que não era perigoso, o som dos passos era estável e... eu estava mesmo a dar em maluco, desde quando é que isso significava que... Parei de pensar no que quer que estivesse quando vi a silhueta de Allison a vir na minha direcção. Não me mexi, continuando apenas a olha-la. - Como é que sabias que eu estava aqui? - perguntei sem ouvir muito bem o seu pedido de desculpas e o porquê de me ter procurado.

Ao início, como não sabia se Scott se ia chatear ou não, por ter ido ter com ele, mantive-me de pé. Porém, isso não durou muito tempo porque, ao ouvir a sua pergunta, acabei por me sentar ao seu lado, olhando em volta, para a floresta, antes de lhe responder.
- Lembrei-me que este foi o local do teu acidente.- encolhi os ombros.- por isso, supus que fosse um sítio para o qual viesses com regularidade.- fiz uma pequena careta, olhando-o.- deixaste-me preocupada.

Olhei em volta depois dela ter falado na zona do acidente e percebi que havia uma estrada em frente e que provavelmente era a zona onde tinha tido o acidente - não reparei, só vim aqui parar - admiti. Passei as mãos pelo cabelo olhando-a de novo e mordi o interior do lábio inferior quando me disse que tinha ficado preocupada - desculpa - pedi - eu precisava de sair havia... - encolhi apenas os ombros, não continuando a frase por saber que parecia demasiado maluco.

Assenti, assim que deu a entender que não tinha ido ali parar de propósito, mas não liguei muito, visto que aquilo não passava de um pormenor..agora o mais importante era perceber o que se passava com ele. Virei-me ligeiramente para ele, ficando assim meia de lado, e esperei que falasse, levantando ambas as sobrancelhas quando deixou a frse por terminar.
- Havia..- prolonguei a palavra, na esperança de que acabasse o que tinha para dizer, mas acabei por suspirar, nem lhe dando tempo para isso.- eu sei que mal me conheces, mas podes confiar em mim.- assenti.- se eu vim atrás de ti porque me preocupo.- sorri ligeiramente, fazendo-lhe uma festinha no braço.

Senti um arrepio quando senti o seu toque no meu braço e desviei o olhar do fundo da floresta para o meu braço, onde ela tinha lá a sua mão. Forcei-lhe um pequeno sorriso bem conseguido e abanei a cabeça, pensando numa desculpa que não fosse totalmente mentira. Só a conhecia há um dia, não queria começar já a mentir-lhe - queria perceber porque é que não me lembro de nada do acidente - acabei por dizer-...mas... - olhei em volta - é melhor ir para casa.

Juntei ambas as sobrancelhas assim que vi a sua pele arrepiar-se, depois de lhe ter tocado, e acabei por afastar devagarinho a minha mão do seu braço, endireitando-me ainda ao seu lado. Esperei que respondesse à minha pergunta, caso quisesse e, quando o fez, limitei-me a assentir. Fazia sentido.
- E conseguiste perceber? - perguntei num tom compreensivo, soltando um leve suspiro assim que disse que o melhor era ir para casa.- se quiseres eu posso levar-te.- murmurei, encolhendo os ombros logo de seguida.- mas só se quiseres..- reforcei.- vim de carro.

Abanei rapidamente a cabeça para lhe responder, não conseguia lembrar-me de nada. Tinha mesmo perdido a consciência durante algum tempo e não me parecia que me fosse lembrar o que realmente tinha acontecido. Agarrei na minha mochila da escola, que tinha arrastado até ali e assenti, apesar de me apetecer andar a pé, não queria que ela pensasse que andava a fugir dela, porque não andava, aliás, até queria estar mais vezes com ela. - eu vou contigo, é mais rápido - sorri-lhe.

Soltei um suspiro desanimado, assim que percebi, pelo seu abanar de cabeça, que não se tinha conseguido lembrar de nada e permaneci ao seu lado, até o ver levantar. Juntei as sobrancelhas, começando a fazer o mesmo e sorri, quando o ouvi dizer que vinha comigo.
- Eu prometo que não te chateio mais depois de hoje.- murmurei, apontando com o queixo na direcção onde tinha deixado o carro estacionado.- mas obrigada por teres aceite, fico mais descansada se te for deixar em casa são e salvo.

Parei assim que a ouvi dizer que me ia parar de chatear e percebi que ela tinha percebido aquilo que eu não queria - espera, Allison - agarrei-lhe na mão, mesmo sabendo que podíamos conversar no carro. - eu quero que me chateies - acabei por sorrir - eu só estou um bocado confuso, esta noite foi estranha e este dia ainda foi mais, não tem nada à ver contigo. Tu ajudaste - garanti - obrigado.

Estava a andar em direcção ao carro, visto que estávamos cada vez mais perto, quando senti Scott dizer o meu nome e agarrar-me na mão, como que a fazer-me parar de andar. Juntei ligeiramente as sobrancelhas, parando como ele tanto queria e fiquei apenas a olhá-lo enquanto o ouvia dizer-me que queria que eu o chateasse. Sorri, mordiscando o meu lábio inferior enquanto o fazia e acabei por me aproximar dele, acariciando ao de leve a mão que ele me agarrava.
- Eu só não quero sufocar-te demais por ficar tão preocupada contigo.- encolhi os ombros, tentando explicar-me.- mas agora que disseste isso, é tarde demais para voltar atrás.- disse com um ar brincalhão.- vou chatear-te para todo o sempre.- sorri marota, puxando-o mais para ao pé de mim e recomecei a andar ao seu lado.- e não tens de agradecer, eu ajudei-te porque quis, porque tal como já te disse, me preocupo.

-Eu estou bem, só estou confuso - disse com um encolher de ombros, de forma a mostrar-me descontraído, coisa que não estava visto que os meus músculos pareciam pedras de tão doridos que estavam e, mesmo assim, eu sentia-me bem, ainda sem ferida. Ri-me do que ela disse assentindo afirmativamente com a cabeça - eu não me importo. - sorri-lhe ao ouvi-la dizer-me que se preocupava - também podes contar comigo.

- Foi o acidente que te deixou assim? - não resisti em perguntar, depois de o ouvir dizer que estava confuso, mas tentei não fazer mais nenhuma pergunta, continuando a andar até ao meu carro, enquanto esperava pela sua resposta. Tirei as chaves do bolso, assim que o vi ao longe e aproveitei para o abrir, desviando depois o olhar para Scott, assim que o ouvi dizer-me que eu também podia contar com ele.- obrigada, é bom saber.- disse sinceramente, dirigindo-lhe um sorriso.

Encolhi ligeiramente os ombros para responder à sua pergunta e só depois decidi falar - sim... acho que sim - olhei para trás quando voltei a sentir-me observado e apressei-me a andar à sua frente, vendo o seu carro ao fundo - Eu digo-te onde é que é a minha casa - sorri-lhe - e com isto tudo vais poder andar por aí a perseguir-me. - brinquei para aliviar o ambiente.

- Vais ver que daqui a uns dias já vais ter as ideias em ordem.- disse, depois de ter respondido à minha pergunta. Eu lembrava-me de que, quando o tinha encontrado, no dia do seu acidente, ele nem sequer se lembrava de o ter tido. Devia ser por isso que tudo estava a ser tão confuso para ele. Fui até à porta do lugar do condutor, assim que chegámos junto do meu carro, e só não entrei logo, porque ouvi o que ele disse, o que me fez rir.- porque é que achas que eu insisti em levar-te a casa? - perguntei, no mesmo tom que ele, dirigindo-lhe um olhar maroto antes de entrar finalmente e esperar que fizesse o mesmo.

Assenti positivamente, esperando que ela tivesse razão e que não piorasse em vez disso, é que, eu começava mesmo a duvidar das minhas capacidades mentais, podia estar a ficar maluco e... respirei fundo quando entrei no carro de Allison e encostei a cabeça à cadeira - não precisas de me seguir, a minha mãe gosta de conhecer os meus amigos por isso podes aparecer lá sempre que quiseres.

Depois de Scott se ter finalmente sentado, e depois de eu ter colocado o cinto, liguei o carro para começar a sair dali. Não que tivesse presa em afastar-me dele, porque não tinha, mas não gostava da floresta às escuras, e a verdade era que começava a entardecer. Enfiei-me o mais rápido que consegui na estrada, ligando o rádio para termos música ambiente, e depois olhei-o, assim que o ouvi dizer-me que podia ir a sua casa sempre que quisesse.
- Isso é muito simpático da tua mãe.- sorri, assentindo.- mas tens de concordar que entrar no teu quarto às escondidas, teria muito mais piada.- disse, arregalando os olhos assim que percebi o sentido que ele poderia dar às minhas palavras.- não que fôssemos fazer alguma coisa que precisasse de ser às escondidas.- disse logo, tentando remediar a situação. Parecia que agora era a minha vez de me engasgar com as palavras.- só estava a dizer que...- suspirei, abanando a cabeça.- eu vou dedicar-me à condução.- assenti a mim própria, apertando o volante nas minhas mãos e fixei depois os olhos na estrada, continuando a conduzir.

Desviei o olhar dela quando falou na minha mãe e ri-me levemente passando uma mão pelo cabelo quando ouvi um zumbido estranho do meu ouvido. Mesmo assim não consegui evitar não rir com o que ela disse, aliás, nem foi bem com o que ela disse foi mais com a sua atrapalhação. -Eu percebi, não precisas de ficar assim tão atrapalhada. Mesmo assim não sei Alli... acho que ela ia apanhar-te de qualquer das maneiras. Ela tem o ouvido muito apurado - ri-me apontando para uma cortada - é para este lado.

Apesar de ter ficado bastante atrapalhada, na forma mais constrangedora possível da palavra, Scott não se pareceu importar muito com as segundas intenções que o que eu disse poderiam ter. Ri-me quando o ouvi fazer o mesmo e encolhi ligeiramente os ombros, tentando esconder a minha vergonha.
- A tua sexyness deixa-me atrapalhada, a culpa é tua.- gozei, tentando dar à volta à situação e, quando o ouvi chamar-me de Alli, não consegui não sorrir. Nunca me tinham chamado daquela forma, nem mesmo as minhas amigas. Mais uma coisa que gostava nele. Despertei dos meus pensamentos, assim que me apercebi de que talvez estivesse a demorar tempo demais a responder e olhei-o, ainda que estivesse a sorrir.- nesse caso, é melhor conhecer a tua mãe primeiro e depois sim, já posso ir até ao teu quarto.- pisquei-lhe o olho, desta vez pouco me importando com a mensagem que aquilo poderia transmitir. Endireitei-me, encostando a cabeça ao banco, sempre com os olhos postos na estrada, e virei assim que ele me disse para o fazer.